Вход    
Логин 
Пароль 
Регистрация  
 
Блоги   
Демотиваторы 
Картинки, приколы 
Книги   
Проза и поэзия 
Старинные 
Приключения 
Фантастика 
История 
Детективы 
Культура 
Научные 
Анекдоты   
Лучшие 
Новые 
Самые короткие 
Рубрикатор 
Персонажи
Новые русские
Студенты
Компьютерные
Вовочка, про школу
Семейные
Армия, милиция, ГАИ
Остальные
Истории   
Лучшие 
Новые 
Самые короткие 
Рубрикатор 
Авто
Армия
Врачи и больные
Дети
Женщины
Животные
Национальности
Отношения
Притчи
Работа
Разное
Семья
Студенты
Стихи   
Лучшие 
Новые 
Самые короткие 
Рубрикатор 
Иронические
Непристойные
Афоризмы   
Лучшие 
Новые 
Самые короткие 
Рефераты   
Безопасность жизнедеятельности 
Биографии 
Биология и химия 
География 
Иностранный язык 
Информатика и программирование 
История 
История техники 
Краткое содержание произведений 
Культура и искусство 
Литература  
Математика 
Медицина и здоровье 
Менеджмент и маркетинг 
Москвоведение 
Музыка 
Наука и техника 
Новейшая история 
Промышленность 
Психология и педагогика 
Реклама 
Религия и мифология 
Сексология 
СМИ 
Физкультура и спорт 
Философия 
Экология 
Экономика 
Юриспруденция 
Языкознание 
Другое 
Новости   
Новости культуры 
 
Рассылка   
e-mail 
Рассылка 'Лучшие анекдоты и афоризмы от IPages'
Главная Поиск Форум

Коэльо, Пауло - Коэльо - Алхимик (port)

Проза и поэзия >> Переводная проза >> Коэльо, Пауло
Хороший Средний Плохой    Скачать в архиве Скачать 
Читать целиком
Лбвхк Укьхшк. Бхъяияу (port)

Paulo Coelho. O Alquimista
---------------------------------------------------------------

© Copyright Paulo Coelho

Paulo Coelho's Home page

Origin: http://www.cyberminas.com.br

Date: 14 Aug 2003

---------------------------------------------------------------



     Ediфтo especial da pвgina www.paulocoelho.com.br , venda proibida
PREFВCIO


     С importante dizer alguma coisa sobre o fato de O Alquimista ser um livro simbзlico, diferente de O Diвrio de um Mago, que foi um trabalho de nтo-ficфтo.

     Durante onze anos de minha vida estudei Alquimia. A simples idсia de transformar metais em ouro, ou de descobrir o Elixir da Longa Vida, jв era fascinante demais para passar despercebida a qualquer iniciante em Magia. Confesso que o Elixir da Longa Vida me seduzia mais: antes de entender e sentir a presenфa de Deus, a idсia de que tudo ia acabar um dia era desesperadora. De maneira que, ao saber da possibilidade de conseguir um lйquido capaz de prolongar por muitos anos minha existуncia, resolvi dedicar- me de corpo e alma б sua fabricaфтo.

     Era uma сpoca de grandes transformaфъes sociais o comeфo dos anos setenta e nтo havia ainda publicaфъes sсrias a respeito de Alquimia. Comecei, como um dos personagens do livro, a gastar o pouco dinheiro que tinha na compra de livros importados, e dedicava muitas horas do meu dia ao estudo da sua simbologia complicada. Procurei duas ou trуs pessoas no Rio de Janeiro que se dedicavam seriamente б Grande Obra, e elas se recusaram a me receber. Conheci tambсm muitas outras pessoas que se diziam alquimistas, possuйam seus laboratзrios, e prometiam me ensinar os segredos da Arte em troca de verdadeiras fortunas; hoje entendo que elas nada sabiam daquilo que pretendiam ensinar.

     Mesmo com toda a minha dedicaфтo, os resultados eram absolutamente nulos. Nтo acontecia nada do que os manuais de Alquimia afirmavam em sua complicada linguagem. Era um sem-fim de sйmbolos, de dragъes, leъes, sзis, luas e mercжrios, e eu sempre tinha a impressтo de estar no caminho errado, porque a linguagem simbзlica permite uma gigantesca margem de equйvocos. Em 1973, jв desesperado com a ausуncia de progresso, cometi uma suprema irresponsabilidade. Nesta сpoca eu era contratado pela Secretaria de Educaфтo de Mato Grosso para dar aulas de teatro naquele estado, e resolvi utilizar meus alunos em laboratзrios teatrais que tinham como tema a Tвboa da Esmeralda. Esta atitude, aliada a algumas incursъes minhas nas вreas pantanosas da Magia, fizeram com que no ano seguinte eu pudesse experimentar na prзpria carne a verdade do provсrbio: "Aqui se faz, aqui se paga". Tudo a minha volta ruiu por completo.

     Passei os prзximos seis anos de minha vida numa atitude bastante cсtica com relaфтo a tudo que dissesse respeito б вrea mйstica. Neste exйlio espiritual, aprendi muitas coisas importantes: que sз aceitamos uma verdade quando primeira a negamos do fundo da alma, que nтo devemos fugir de nosso prзprio destino, e que a mтo de Deus с infinitamente generosa, apesar de Seu rigor.

     Em 1981, conheci RAM e o meu Mestre, que iria conduzir-me de volta ao caminho que estв traфado para mim. E enquanto ele me treinava em seus ensinamentos, voltei a estudar Alquimia por minha prзpria conta. Certa noite, enquanto conversвvamos depois de uma exaustiva sessтo de telepatia, perguntei porque a linguagem dos alquimistas era tтo vaga e tтo complicada.

     Existem trуs tipos de alquimistas disse meu Mestre. Aqueles que sтo vagos porque nтo sabem o que estтo falando; aqueles que sтo vagos porque sabem o que estтo falando, mas sabem tambсm que a linguagem da Alquimia с uma linguagem dirigida ao coraфтo, e nтo б razтo.


     E qual o terceiro tipo? perguntei.

     Aqueles que jamais ouviram falar em Alquimia, mas que conseguiram, atravсs de suas vidas, descobrir a Pedra Filosofal.

     E com isto, meu Mestre que pertencia ao segundo tipo resolveu me dar aulas de Alquimia. Descobri que a linguagem simbзlica, que tanto me irritava e me desnorteava, era a жnica maneira de se atingir a Alma do Mundo, ou o que Jung chamou de "inconsciente coletivo". Descobri a Lenda Pessoal, e os Sinais de Deus, verdades que meu raciocйnio intelectual se recusava a aceitar por causa de sua simplicidade. Descobri que atingir a Grande Obra nтo с tarefa de poucos, mas de todos os seres humanos sobre a face da Terra. С claro que nem sempre a Grande Obra vem sob a forma de um ovo e de um frasco com lйquido, mas todos nзs podemos sem qualquer sombra de dжvida mergulhar na Alma do Mundo.

     Por isso, "O Alquimista" с tambсm um texto simbзlico. No decorrer de suas pвginas, alсm de transmitir tudo o que aprendi a respeito, procuro homenagear grandes escritores que conseguiram atingir a Linguagem Universal: Hemingway, Blake, Borges (que tambсm utilizou a histзria persa para um de seus contos), Malba Tahan, entre outros.


     Para completar este extenso prefвcio, e ilustrar o que meu Mestre queria dizer com o terceiro tipo de alquimistas, vale a pena recordar uma histзria que ele mesmo me contou no seu laboratзrio.

     Nossa Senhora, com o Menino Jesus em seus braфos, resolveu descer б Terra e visitar um mosteiro. Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um chegava diante da Virgem para prestar sua homenagem. Um declamou belos poemas, outro mostrou suas iluminuras para a Bйblia, um terceiro disse o nome de todos os santos. E assim por diante, monge apзs monge, homenageou Nossa Senhora e o Menino Jesus.

     No жltimo lugar da fila, havia um padre, o mais humilde do convento, que nunca havia aprendido os sвbios textos da сpoca. Seus pais eram pessoas simples, que trabalhavam num velho circo das redondezas, e tudo que lhe haviam ensinado era atirar bolas para cima e fazer alguns malabarismos.

     Quando chegou sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista nтo tinha nada de importante para dizer, e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coraфтo, tambсm ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si para Jesus e a Virgem.

     Envergonhado, sentindo o olhar reprovador de seus irmтos, ele tirou algumas laranjas do bolso e comeфou a jogв-las para cima, fazendo malabarismos, que era a жnica coisa que sabia fazer.

     Foi sз neste instante que o Menino Jesus sorriu, e comeфou a bater palmas no colo de Nossa Senhora. E foi para ele que a Virgem estendeu os braфos, deixando que segurasse um pouco o menino.
O AUTOR


     Para J.

     Alquimista que conhece e utiliza os segredos da Grande Obra.


     Indo eles pelo caminho, entraram em um certo povoado. E certa mulher,

     chamada Marta, hospedou-o na sua casa.

     Tinha ela uma irmт, chamada Maria, que sentou-se aos pсs do Senhor, e

     ficou ouvindo seus ensinamentos.

     Marta agitava-se de um lado para o outro, ocupada em muitos serviфos.

     Entтo aproximou-se de Jesus e disse: Senhor! Nтo te importas de que eu fique a servir sozinha? Ordena a minha

     irmт que venha ajudar-me!

     Respondeu-lhe o Senhor:

     Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas.

     "Maria, entretanto, escolheu a melhor parte, e esta nтo lhe serв tirada."
LUCAS, 10; 38-42
PRЗLOGO


     O Alquimista pegou um livro que alguсm na caravana havia trazido. O volume estava sem capa, mas conseguiu identificar seu autor: Oscar Wilde. Enquanto folheava suas pвginas, encontrou uma histзria sobre Narciso.

     O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um belo rapaz que todos os dias ia contemplar sua prзpria beleza num lago. Era tтo fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.

     Mas nтo era assim que Oscar Wilde acabava a histзria.

     Ele dizia que quando Narciso morreu, vieram as Orсiades deusas do bosque e viram o lago transformado, de um lago de вgua doce, num cчntaro de lвgrimas salgadas.

     Por que vocу chora? perguntaram as Orсiades.

     Choro por Narciso disse o lago

     Ah, nтo nos espanta que vocу chore por Narciso continuaram elas. Afinal de contas, apesar de todas nзs sempre corrermos atrвs dele pelo bosque, vocу era o жnico que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.

     Mas Narciso era belo? perguntou o lago.

     Quem mais do que vocу poderia saber disso? responderam, surpresas, as Orсiades.

     Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruфava todos os dias.

     O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:

     Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo.

     "Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, minha prзpria beleza refletida".


     "Que bela histзria", disse o Alquimista.


     O rapaz chamava-se Santiago. Estava comeфando a escurecer quando chegou com seu rebanho diante de uma velha igreja abandonada. O teto tinha despencado hв muito tempo, e um enorme sicоmoro havia crescido no local que antes abrigava a sacristia.

     Resolveu passar a noite ali. Fez com que todas as ovelhas entrassem pela porta em ruйnas, e entтo colocou algumas tвbuas de modo que elas nтo pudessem fugir durante a noite. Nтo haviam lobos naquela regiтo, mas certa vez um animal havia escapado durante a noite, e ele gastara todo o dia seguinte procurando a ovelha desgarrada.

     Forrou o chтo com seu casaco e deitou-se, usando o livro que acabara de ler como travesseiro. Lembrou-se, antes de dormir, que precisava comeфar a ler livros mais grossos: demoravam mais para acabar e eram travesseiros mais confortвveis durante a noite.

     Ainda estava escuro quando acordou. Olhou para cima, e viu que as estrelas brilhavam atravсs do teto semidestruйdo.

     "Queria dormir um pouco mais", pensou ele. Tivera o mesmo sonho da semana passada, e outra vez acordara antes do final.

     Levantou-se e tomou um gole de vinho. Depois pegou o cajado e comeфou a acordar as ovelhas que ainda dormiam. Ele havia reparado que, assim que acordava, a maior parte dos animais tambсm comeфava a despertar. Como se houvesse alguma misteriosa energia unindo sua vida б vida daquelas ovelhas que hв dois anos percorriam com ele a terra, em busca de вgua e alimento. "Elas jв se acostumaram tanto a mim que conhecem meus horвrios", disse em voz baixa. Refletiu um momento, e pensou que podia ser tambсm o contrвrio: ele que havia se acostumado ao horвrio das ovelhas.

     Haviam certas ovelhas, porсm, que demoravam um pouco mais para levantar. O rapaz acordou uma a uma com seu cajado, chamando cada qual pelo seu nome. Sempre acreditara que as ovelhas eram capazes de entender o que ele falava. Por isso costumava бs vezes ler para elas os trechos de livros que o haviam impressionado, ou falar da solidтo e da alegria de um pastor no campo, ou comentar sobre as жltimas novidades que via nas cidades por onde costumava passar.

     Nos жltimos dois dias, porсm, seu assunto tinha sido praticamente um sз: a menina, filha do comerciante, que morava na cidade por onde ia chegar daqui a quatro dias. Tinha estado apenas uma vez lв, no ano anterior. O comerciante era dono de uma loja de tecidos, e gostava sempre de ver as ovelhas tosquiadas na sua frente, para evitar falsificaфъes. Um certo amigo tinha indicado a loja, e o pastor levou lв suas ovelhas.


     "Preciso vender alguma lт", disse para o comerciante.

     A loja do homem estava cheia, e o comerciante pediu que o pastor esperasse atс o entardecer. Ele sentou-se na calфada da loja e tirou um livro do alforje.

     Nтo sabia que os pastores sтo capazes de ler livros disse uma voz feminina ao seu lado.


     Era uma moфa tйpica da regiтo de Andaluzia, com seus cabelos negros escorridos, e os olhos que lembravam vagamente os antigos conquistadores mouros.

     С porque as ovelhas ensinam mais que os livros respondeu o rapaz. Ficaram conversando por mais de duas horas. Ela contou que era filha do comerciante, e falou da vida na aldeia, onde cada dia era igual ao outro. O pastor contou dos campos de Andaluzia, das жltimas novidades que viu nas cidades onde visitara. Estava contente por nтo precisar conversar sempre com as ovelhas.

     Como aprendeu a ler? perguntou a moфa a certa altura.

     Como todas as outras pessoas respondeu o rapaz. Na escola.

     E, se sabe ler, entтo por que с apenas um pastor?

     O rapaz deu uma desculpa qualquer para nтo responder aquela pergunta. Ele tinha certeza de que a moфa jamais entenderia. Continuou a contar suas histзrias de viagem, e os pequenos olhos mouros abriam-se e fechavam-se de espanto e surpresa. Б medida que o tempo foi passando, o rapaz comeфou a desejar que aquele dia nтo acabasse nunca, que o pai da moфa ficasse ocupado por muito tempo e o mandasse esperar por trуs dias. Percebeu que estava sentindo uma coisa que nunca havia sentido antes: vontade de ficar morando numa mesma cidade para sempre. Com a menina de cabelos negros, os dias nunca seriam iguais.

     Mas o comerciante finalmente chegou e mandou que ele tosquiasse quatro ovelhas. Depois, pagou-lhe o que era devido, e pediu que voltasse no ano seguinte.


     Agora faltavam apenas quatro dias para chegar de novo б mesma aldeia. Estava excitado e ao mesmo tempo inseguro: talvez a menina jв tivesse esquecido. Por ali passavam muitos pastores para vender lт.

     Nтo tem importчncia disse o rapaz para as suas ovelhas. Eu tambсm conheфo outras meninas em outras cidades.

     Mas no fundo do seu coraфтo, ele sabia que tinha importчncia. E que tanto os pastores, como os marinheiros, como os caixeiro-viajantes, sempre conheciam uma cidade onde havia alguсm capaz de fazer com que esquecessem a alegria de viajar solto pelo mundo.


     O dia comeфou a raiar e o pastor colocou as ovelhas seguindo em direфтo ao sol. "Elas nunca precisam tomar uma decisтo", pensou ele. "Talvez por isso fiquem sempre juntos de mim". A жnica necessidade que as ovelhas sentiam era de вgua e de alimento. Enquanto o rapaz conhecesse os melhores pastos em Andaluzia, elas seriam sempre suas amigas. Mesmo que os dias fossem todos iguais, com longas horas se arrastando entre o nascer e o pоr-do-sol; mesmo que elas jamais tivessem lido um sз livro em suas curtas vidas, e nтo conhecessem a lйngua dos homens que contavam as novidades nas aldeias. Elas estavam contentes com вgua e alimento, e isto bastava. Em troca, ofereciam generosamente sua lт, sua companhia, e de vez em quando sua carne.

     "Se hoje eu me tornasse um monstro e resolvesse matar uma por uma, elas sз iam perceber depois que quase todo o rebanho tivesse sido exterminado", pensou o rapaz. "Porque confiam em mim, e se esqueceram de confiar nos seus prзprios instintos. Sз porque as conduzo ao alimento e б comida".

     O rapaz comeфou a estranhar seus prзprios pensamentos. Talvez a igreja, com aquele sicоmoro crescendo dentro, fosse mal-assombrada. Tinha feito com que sonhasse um mesmo sonho pela segunda vez, e estava lhe dando uma sensaфтo de raiva contra suas companheiras, sempre tтo fiсis. Bebeu um pouco de vinho que havia sobrado do jantar na noite anterior, e apertou contra o corpo o seu casaco. Ele sabia que daqui a algumas horas, com o sol a pino, o calor seria tтo forte que nтo ia poder

     conduzir as ovelhas pelo campo. Era a hora que toda a Espanha dormia no verтo. O calor durava atс a noite, e durante todo este tempo ele tinha que ficar carregando o casaco. Entretanto, quando pensava em reclamar do peso, sempre lembrava que por causa dele nтo havia sentido frio de manhт.

     "Temos que estar sempre preparados para as surpresas do tempo", pensava entтo ele, e sentia-se grato pelo peso do casaco.

     O casaco tinha um motivo, e o rapaz tambсm. Em dois anos pelas planйcies de Andaluzia ele jв sabia de cor todas as cidades da regiтo, e esta era a grande razтo de sua vida; viajar. Estava planejando explicar desta vez б menina porque um simples pastor sabe ler: havia estado atс os dezesseis anos num seminвrio. Seus pais queriam que ele fosse padre, e motivo de orgulho para uma simples famйlia camponesa, que trabalhava apenas para comida e вgua, como suas ovelhas. Estudou latim, espanhol, e teologia. Mas desde crianфa sonhava em conhecer o mundo, e isto era muito mais importante do que conhecer Deus ou os pecados dos homens. Certa tarde, ao visitar a famйlia, havia tomado coragem e dito para seu pai que nтo queria ser padre. Queria viajar.


     Homens de todo o mundo jв passaram por esta aldeia, filho disse o pai. Vуm em busca de coisas novas, mas continuam as mesmas pessoas. Vтo atс o morro conhecer o castelo e acham que o passado era melhor que o presente. Tуm cabelos louros ou pele escura, mas sтo iguais aos homens de nossa aldeia.

     Mas nтo conheфo os castelos das terras de onde eles vуm retrucou o rapaz.

     Estes homens, quando conhecem nossos campos e nossas mulheres, dizem que gostariam de viver para sempre aqui continuou o pai.

     Quero conhecer as mulheres e as terras de onde eles vieram disse o rapaz. Porque eles nunca ficam por aqui.

     Os homens trazem a bolsa cheia de dinheiro disse mais uma vez o pai. Entre nзs, sз os pastores viajam.

     Entтo serei pastor.

     O pai nтo disse mais nada. No dia seguinte deu-lhe uma bolsa com trуs antigas moedas de ouro espanholas.

     Achei certo dia no campo. Iam ser da Igreja, como seu dote. Compre seu rebanho e corra o mundo atс aprender que nosso castelo с o mais importante, e nossas mulheres sтo as mais belas.

     E o abenфoou. Nos olhos do pai ele leu tambсm a vontade de correr o mundo. Uma vontade que ainda vivia, apesar das dezenas de anos que ele a tentou sepultar com вgua, comida, e o mesmo lugar para dormir toda noite.


     O horizonte se tingiu de vermelho, e depois apareceu o sol. O rapaz lembrou-se da conversa com o pai e sentiu-se alegre; tinha jв conhecido muitos castelos e muitas mulheres (mas nenhuma igual бquela que o esperava em dois dias). Tinha um casaco, um livro que podia trocar por outro, e um rebanho de ovelhas. O mais importante, entretanto, с que todo dia realizava o grande sonho de sua vida; viajar. Quando cansasse dos campos de Andaluzia, podia vender suas ovelhas e tornar-se marinheiro. Quando cansasse do mar, teria conhecido muitas cidades, muitas mulheres, muitas oportunidades de ser feliz.

     "Nтo sei como buscam Deus no seminвrio", pensou, enquanto olhava o sol que nascia. Sempre que possйvel, buscava um caminho diferente para andar. Nunca havia estado naquela igreja antes, apesar de haver passado tantas vezes por ali. O mundo era grande e inesgotвvel, e se ele deixasse que as ovelhas o guiassem apenas um pouquinho, ia terminar descobrindo mais coisas interessantes. "O problema с que elas nтo se dтo conta de que estтo fazendo caminhos novos cada dia. Nтo percebem que os pastos mudaram, que as estaфъes sтo diferentes porque estтo apenas ocupadas com вgua e comida."

     "Talvez seja assim com todos nзs" pensou o pastor. "Mesmo comigo, que nтo penso em outras mulheres desde que conheci a filha do comerciante". Olhou o cсu, e pelos seus cвlculos estaria antes do almoфo em Tarifa. Lв poderia trocar seu livro por um volume mais grosso, encher a garrafa de vinho, e fazer a barba e o cabelo; tinha que estar pronto para encontrar a menina, e nтo queria pensar na possibilidade de outro pastor ter chegado antes dele, com mais ovelhas, para pedir sua mтo.

     "С justamente a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante", refletiu enquanto olhava novamente o cсu e apressava o passo. Tinha acabado de se lembrar que em Tarifa morava uma velha capaz de interpretar sonhos. E ele tinha tido um sonho repetido aquela noite.


     A velha conduziu o rapaz atс um quarto no fundo da casa, separado da sala por uma cortina feita de tiras de plвstico colorido. Lв dentro tinha uma mesa, uma imagem do Sagrado Coraфтo de Jesus, e duas cadeiras.

     A velha sentou-se e pediu que ele fizesse o mesmo. Depois segurou as duas mтos do rapaz e rezou baixo.

     Parecia uma reza cigana. O rapaz jв havia encontrado muitos ciganos pelo caminho; eles viajavam e entretanto nтo cuidavam de ovelhas. As pessoas diziam que a vida de um cigano era sempre enganar aos outros. Diziam tambсm que eles tinham pacto com demоnios, e que raptavam crianфas para servirem de escravas em seus misteriosos acampamentos. Quando era pequeno, o rapaz sempre tinha morrido de medo de ser raptado pelos ciganos, e este temor antigo voltou enquanto a velha segurava suas mтos.

     "Mas existe a imagem do Sagrado Coraфтo de Jesus", pensou ele, procurando ficar mais calmo. Nтo queria que sua mтo comeфasse a tremer e a velha percebesse seu medo . Rezou um pai-nosso em silуncio.

     Que interessante disse a velha, sem tirar os olhos da mтo do rapaz. E voltou a ficar quieta.

     O rapaz estava ficando nervoso. Suas mтos comeфaram involuntariamente a tremer, e a velha percebeu. Ele puxou as mтos rapidamente.

     Nтo vim aqui para ler as mтos disse, jв arrependido de ter entrado naquela casa. Pensou por um momento que era melhor pagar a consulta e ir-se embora sem saber de nada. Estava dando importчncia demais a um sonho repetido.

     Vocу veio saber de sonhos respondeu a velha. E os sonhos sтo a linguagem de Deus. Quando ele fala a linguagem do mundo, eu posso interpretar. Mas se ele falar a linguagem de sua alma, sз vocу pode entender. E vou cobrar a consulta de qualquer maneira.

     Mais um truque, pensou o rapaz. Entretanto, resolveu arriscar. Um pastor corre sempre o risco dos lobos ou da seca, e isto с que faz a profissтo de pastor mais excitante.

     Tive o mesmo sonho duas vezes seguidas disse. Sonhei que estava num pasto com minhas ovelhas quando aparecia uma crianфa, e comeфava a brincar com os animais. Nтo gosto que mexam nas minhas ovelhas, elas ficam com medo de estranhos. Mas as crianфas sempre conseguem mexer com os animais sem que eles se assustem. Nтo sei porquу. Nтo sei como os animais sabem a idade dos seres humanos.

     Volte para seu sonho disse a velha. Tenho uma panela no fogo. Alсm disso vocу tem pouco dinheiro e nтo pode tomar todo o meu tempo.

     A crianфa continuava a brincar com as ovelhas por algum tempo continuou o rapaz, um pouco constrangido. E de repente, me pegava pelas mтos e me levava atс as Pirчmides do Egito.

     O rapaz esperou um pouco para ver se a velha sabia o que eram as Pirчmides do Egito. Mas a velha continuou quieta.

     Entтo, nas Pirчmides do Egito, ele falou as trуs жltimas palavras lentamente, para que a velha pudesse entender bem a crianфa me dizia: "se vocу vier atс aqui, vai encontrar um tesouro escondido". E quando ela foi me mostrar o local exato, eu acordei. Nas duas vezes.


     A velha continuou em silуncio por algum tempo. Depois tornou a pegar as mтos do rapaz e estudв-las atentamente.

     Nтo vou lhe cobrar nada agora disse a velha. Mas quero um dсcimo do tesouro, se vocу encontrв-lo.

     O rapaz riu. De felicidade. Entтo iria economizar o pouco dinheiro que tinha, por causa de um sonho que falava em tesouros escondidos! A velha devia ser mesmo uma cigana os ciganos sтo burros.

     Entтo interprete o sonho pediu o rapaz.

     Antes jure. Jure que vocу vai me dar a dсcima parte do seu tesouro em troca do que eu lhe disser.

     O rapaz jurou. A velha pediu para que ele repetisse o juramento olhando para a imagem do Sagrado Coraфтo de Jesus.

     С um sonho da Linguagem do Mundo disse ela. Posso interpretв-lo, e с uma interpretaфтo muito difйcil. Por isso acho que mereфo minha parte no seu achado.

     "E a interpretaфтo с esta: vocу deve ir atс as Pirчmides do Egito. Nunca ouvi falar delas, mas se foi uma crianфa que lhe mostrou, с porque existem. Lв vocу encontrarв um tesouro que lhe farв rico".

     O rapaz ficou surpreso, e depois irritado. Nтo precisava ter procurado a velha para isto.

     Finalmente lembrou-se de que nтo estava pagando nada.

     Para isto eu nтo precisava perder meu tempo disse.

     Por isso lhe falei que seu sonho era difйcil. As coisas simples sтo as mais extraordinвrias, e sз os sвbios conseguem vу-las. Jв que nтo sou uma sвbia, tenho que conhecer outras artes, como a leitura de mтos.

     E como eu vou chegar atс o Egito?

     Eu sз interpreto sonhos. Nтo sei transformв-los em realidade. Por isso tenho que viver do que minhas filhas me dтo.

     E se eu nтo chegar atс o Egito?

     Eu fico sem pagamento. Nтo serв a primeira vez.

     E a velha nтo disse mais nada. Pediu para que o rapaz saйsse, pois jв tinha perdido muito tempo com ele.


     O rapaz saiu decepcionado e decidido a nunca mais acreditar em sonhos. Lembrou-se de que tinha vвrias providуncias a tomar: foi ao armazсm arranjar alguma comida, trocou seu livro por um livro mais grosso, e sentou-se num banco da praфa para saborear o vinho novo que havia comprado. Era um dia quente, e o vinho, por um destes mistсrios insondвveis, conseguia resfriar um pouco seu corpo. As ovelhas estavam na entrada da cidade, no estвbulo de um novo amigo seu. Conhecia muita gente por aquelas bandas e por isso gostava de viajar. A gente sempre acaba fazendo amigos novos, e nтo precisa ficar com eles dia apзs dia. Quando a gente vу sempre as mesmas pessoas e isto acontecia no seminвrio terminamos fazendo com que elas passem a fazer parte de nossas vidas. E como elas fazem parte de nossas vidas, passam tambсm a querer modificar nossas vidas. Se a gente nтo for como elas esperam ficar, chateadas. Porque todas as pessoas tem a noфтo exata de como devemos viver nossa vida.

     E nunca tуm noфтo de como devem viver as suas prзprias vidas. Como a mulher dos sonhos, que nтo sabia transformв-los em realidade.

     Resolveu esperar o sol descer um pouco, antes de seguir com suas ovelhas em direфтo ao campo. Daqui a trуs dias iria estar com a filha do comerciante.

     Comeфou a ler o livro que tinha conseguido com o padre de Tarifa. Era um livro grosso, que falava de um enterro logo na primeira pвgina. Alсm disso, o nome dos personagens eram complicadйssimos. Se algum dia escrevesse um livro, pensou ele, ia colocar um personagem aparecendo de cada vez, para que os leitores nтo tivessem que ficar decorando nomes.

     Quando conseguiu concentrar-se um pouco na leitura, e era boa, porque falava de um enterro na neve, o que lhe transmitia uma sensaфтo de frio debaixo daquele imenso sol um velho sentou-se ao seu lado e comeфou a puxar conversa.

     O que eles estтo fazendo? perguntou o velho, apontando para as pessoas da praфa.

     Trabalhando respondeu o rapaz, secamente, e voltou a fingir que estava concentrado na leitura. Na verdade, estava pensando em tosquiar as ovelhas na frente da filha do comerciante, para ela atestar como ele era capaz de fazer coisas interessantes. Jв havia imaginado esta cena uma porфтo de vezes; em todas elas, a menina ficava deslumbrada quando ele comeфava a lhe explicar que as ovelhas devem ser tosquiadas de trвs para frente. Tambсm tentava se lembrar de algumas boas histзrias para contar a ela enquanto tosquiava as ovelhas. A maior parte ele tinha lido nos livros, mas iria contar como se tivesse vivido pessoalmente. Ela nunca ia saber a diferenфa, porque nтo sabia ler livros.

     O velho, entretanto, insistiu. Falou que estava cansado, com sede, e pediu um gole de vinho ao rapaz. O rapaz ofereceu sua garrafa; talvez o velho ficasse quieto.

     Mas o velho queria conversar de qualquer maneira. Perguntou que livro o rapaz estava lendo. Ele pensou em ser rude e mudar de banco, mas seu pai havia lhe ensinado o respeito pelos mais velhos. Entтo estendeu o livro para o velho, por duas razъes: a primeira с que nтo sabia pronunciar o tйtulo. E a segunda era que, se o velho nтo soubesse ler, ia ele mesmo mudar de banco para nтo sentir-se humilhado.

     Humm... disse o velho, olhando o volume por todos os lados, como se fosse um objeto estranho. С um livro importante, mas с muito chato.

     O rapaz ficou surpreso. O velho tambсm lia, e jв lera aquele livro. E se o livro era chato como ele dizia, ainda dava tempo de trocar por outro.


     С um livro que fala o que quase todos os livros falam continuou o velho. Da incapacidade que as pessoas tуm de escolher seu prзprio destino. E termina fazendo com que todo mundo acredite na maior mentira do mundo.


     Qual с a maior mentira do mundo? indagou surpreso o rapaz.

     С esta: em determinado momento de nossa existуncia, perdemos o controle de nossas vidas, e ela passa a ser governada pelo destino. Esta с a maior mentira do mundo.

     Comigo nтo aconteceu isto disse o rapaz. Queriam que eu fosse padre, e eu resolvi ser pastor.

     Assim с melhor disse o velho. Porque vocу gosta de viajar.

    

... ... ...
Продолжение "Алхимик (port)" Вы можете прочитать здесь

Читать целиком
Все темы
Добавьте мнение в форум 
 
 
Прочитаные 
 Алхимик (port)
показать все


Анекдот 
Офицер обращается к новобранцу из строя: - Как фамилия?

- Украинец

- Я тебя спрашиваю, как фамилия твоя!!!

- Украинец.

- Да фамилия, ты понимаешь по-русски или нет???!!!

- Да Украинец моя фамилия!
Офицер (подозрительно) - Тааак... национальность?

- Белорус.

- Ты что гад издеваешься?!!!!!!!!
показать все
    Профессиональная разработка и поддержка сайтов Rambler's Top100